quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Encruzilhada. Ebò Literário.

A fome vista e pensada desse ambiente-contextual e real,irrefutavelmente, nesse sentido, o jejum toma forma de privilégio, pois, nessa condição e cenário social que viveu Maria Carolina de Jesus, mulher Preta, pobre desabrigada de seus direitos, condição que ainda faz parte da realidade imposta para as pessoas negras,mulheres negras, compondo mais da metade da população brasileira, uma nação que nega sua própria identidade e formação cultural pelo despropósito ode incutir no seio da nação, uma paixão platônica pela eurodescendência. Absorvendo como modelo , os acontecimentos, a história e as tecnologias de poder das grandes potências mundiais e capitais. Um país. que resistiu até o ultimo navio negreiro que conseguiram atracar em terras Tupiniquins. Um país que apaga e nega fatos, personagens, temas, desafios, suas perdas, ou seja, os problemas nunca solucionados, operando por séculos através da história com conceitos e significados depositados nas obras prestigiadas em silêncio nas pinacotecas. “Essa longa história da relação e da reflexão sobre o silêncio, nas suas determinações religiosas ou místicas, contribui bastante para uma tradição em que não se reflete sobre o silêncio na sua realidade significativa. Que formas e movimentos veste o silêncio? O que os silêncios significam na presença, mesmo na ausência das palavrad, gestos e ações?. Então, podemos discorrer brevemente as noções de Silêncio Fundador e a Política do Silêncio. A diferença entre o silêncio fundador e a política do silêncio é que, a política do silêncio produz um recorte entre o que se diz, enquanto o silêncio fundador não estabelece nenhuma divisão: ele significa em (por) si mesmo.” (Orlandi; “As Formas do Silencio no Movimento dos Sentidos”; Silêncio, Sujeito; História). Quais são os fatores, processos, determinações sociais e culturais que destinam a pobreza? Quais as ausências que privam e julgam o que teria luz, brilho e riqueza? Quais os elementos e desígnios que envolvem a condição de pobreza? Quantas faces tem a fome? Que tipo de veneração tem o jejum e suas elevações? De que lugar surge o fôlego para as sensações “irrespiráveis”? Em suas observações e contribuições, Grada Kilomba, escritora, psicóloga, teórica e artista interdisciplinar portuguesa reconhecida pelo seu trabalho que tem como foco o exame da memória, trauma, género, racismo e pós-colonialismo, discorre sobre as dores no estômago, a boca que não come, a boca que fala, como símbolo-desejo do colonialismo, feridas nunca tratadas, uma ferida que dói sempre, por vezes infecta, e outras vezes sangra. “Por que escrevo? Porque tenho de, porque minha voz, em todos os seus dialetos, tem sido calada por muito tempo”. (Jacob Sam-La Rose). A mensagem propagada por dentro do “Diário de um detento” parte de um lugar real e concreto de visão do aprisionamento, encarceramento da vida, aberturas para a morte. Voz que soa e pede respostas a sensação de dor e desespero causadas pela condenação, algumas sem razão, procedência ou até mesmo julgamento. Vozes de homens e mulheres que compartilham destinos em espaços “irrespiráveis”, degustam e empurram “goela a baixo” as grades-ofertas que alimentam a sensação de morte enquanto, em queda, corpos em destemperança buscam folego e tentativas de resignação. Um estado de jejum forçado das vontades, a fome de tudo sucateada pelo nada, de aparência vazia e estável. “O ser humano é descartável no Brasil. Como modess usado ou bombril. Cadeia guarda o que o sistema não quis. Esconde o que a novela não diz”. Ações que são definidas pelas vistas descabidas daqueles que usam terno e gravata. Definem como “rebelião” e “motim” a reação expressa diante das posturas arbitrárias e genocidas. A ordem colonial permanente não difere mulheres, homens e crianças quando se trata daquelas pessoas que são tratadas como socialmente descartáveis ou oriundas das latas de lixo, dos “Quartos de despejo” (Massacre no Carandiru, A chacina da Candelária. Chacina de Vigário Geral) são marcadas e silenciadas pela história, embora lembradas por aqueles que ainda ocupam estes ambientes de privação, perseguição e tortura. “A permanência do discurso da tradição no modernismo” demonstra uma resistência dos discursos gloriosos e memorialísticos associados ao pensamento binário e inquietante que transita entre o jejum dos privilégios e a fome de poder. Horizonte possível na literatura do moderno Oswaldo de Andrade “que levou até as últimas consequências a estética da paródia absorvida pela ruptura, pela ironia, pelo deboche e ambiguidade. Um tipo de literatura que se revela em descompromisso com a ética e posicionamento político, ou seja, a responsabilidade assumida em uma discussão. “A história da escrita conformar-se-á a uma lei da economia mecânica: ganhar o máximo de espaço e de tempo através da abreviação mais cômoda; esta nunca terá o mesmo efeito sobre a estrutura e o conteúdo de sentido (ideias) que deverá veicular”. Paz afirma que, “a proposta de tempo vitoriosa em termos da modernidade é a colonização do futuro”. Observação que se corporifica nas palavras e tratamento dado a posterioridade no discurso de Carlos Drumont de Andrade “Hoje faz escuro, estamos atravessando trevas históricas, mas canto porque acredito na utopia do dia que virá. Acredito na colonização do futuro”. Pela semiose das ideias, todos os contextos-interpretativos, as imagens-discursivas, seus agentes, o signo interpretado e seus interpretantes por definições “ iluminadas” pela ideia do comercio, cultura e tecnologia, necessidade de justificativas valorativas para o que se estava construindo, logo depois, no final do século XVIII, corpo-texto onde não se sustentavam mais as narrativas da cristandade europeia. Percebeu-se a necessidade de novas criações, novas ideias e avaliações para reformulações de novos valores estéticos, políticos e culturais discutidos pela elite branca burguesa global pela eminência de se produzir novas concepções para velhas e escravagistas posturas. Saloma Salomão, músico, historiador, intelectual e ativista negro afirma “ A noção de identidade brasileira é modernista”, lembrando-nos das primeiras produções literárias criadas nos anos vinte, o seu desenvolvimento nos anos trinta e imposta a sociedade brasileira ao longo do cinquenta, sessenta anos. Sua função sistêmica e semântica nas formas de veiculação dos discursos, os posicionamentos políticos e atos de fala tomados pela pseudo-elite-intelectual-cultural brasileira no final do século XIX e início do século XX. com a permanência deterministas de um tempo/espaço o qual o sentido de humanidade foi simplificado de maneira banalizada. Tempo onde as ciências que estão sendo produzidas na Europa, são utilizadas para explicar porque a condição de negros e brancos europeus são diferentes. Problema que será desenvolvido pela ideologia de raça, ou seja, a noção de raça, além, da formação de subjetividades radicalizadas. No século XVIII na Europa Ocidental (Alemanha, França e Inglaterra estavam dominando várias populações de cor, não cristãs. Através de experiências violentas contra pessoas na região da Namíbia. Ora, se algo serve de experimento, logo, independente do resultado, o corpo-substância será modelo, com características em um conjunto de soluções determinantes. Interessante pensarmos a relação egocêntrica de tal experimentação, levando em consideração que, para efeito entre a relação cartesiana de superioridade e inferioridade, é necessário que exista uma relação de poder e nem que seja, minimamente, a presença da resistência. O que nos permite problematizar esse lugar de centralidade do indivíduo branco ocidental cis-hetero padrão da europeidade. Nesse sentido e linhagem filosófica, literária e política, o pensamento cientifico delibera a função, dentro das suas teorias biológicas, neuro-cientificas, propostas sociais e governamentais que em suas práticas endossam e sofisticam as relações senhores-escravos fundamentadas, embricadamente, nas relações de poder e práticas discriminatórias que identificam, inscrevem e orientam os seres, os sujeitos, os indivíduos dentro de uma dinâmica das relações sociais agenciadas pelas sociabilidades. O que é o brasileiro? A nação é a única possibilidade de identificação dos indivíduos e das coletividades? Torna-se evidente e comprovado, através de pesquisas, publicações teóricas, pelas literaturas comparadas, pela filosofia contemporânea-moderna, que mesmo ainda tímida, mostra-se de um pensar necessário, afetado, vibrante e impulsionado que, em particular, a educação brasileira, desde sua criação, evita incluir em sua pedagogia, a ideia da “multicuturalidade”, a lei 10.639 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da rede de ensino de história e cultura africana e afro-brasileira. Levando em consideração a política de igualdade racial assim como o conteúdo de valorização e reconhecimento de iniciativa socioeducativa. Michel Foucault em seus estudos e teorizações, coloca-nos em uma intensa encruzilhada onde se problematiza o conceito e noção de poder, as relações de poder e a questão da ética como temas principais de seus debates e conversas. Trazendo ao centro do debate as formas e comportamental idades dos sujeitos de uma sociedade. Reverenciado, por algumas personalidades, como o um efetivo “ diplomata cultural”, considera de forma altiva e desafiadora as estruturas de poder, as estruturas do poder saber relacionando-as as circunstâncias das solicitações através de diferentes conjunturas, algo que deveria ser comum as sociedades humanas enquanto corpo político que cabe a intuição fundamental e o pensamento sistemático que envolvem os processos sociais e culturais. “ O que é a nossa realidade? ” Em que consiste o nosso presente? ”. Para explicar a história da vida intelectual, um ao outro, da Europa Ocidental depois da guerra, Michel Foucault cita três pontos principais e fundamentais para se pensar o contexto de produção de conhecimento que se pensava em determinada época e contexto, ou seja, as estratégias de permanência e reformas de um ideal iluminista. As configurações desse campo de incidência com as relações do saber poder, o que Foucault chamou de “ modelo científico” ou “ forma da ciência “ perspectiva defendida na sua obra “ As palavras e as coisas”. Cito Foucault pela sensível a proximidade dos seus pensamentos com a construção das representações discursivas e imagens dialéticas da história “ fronteirística”. Dos conceitos reduzidos e significados predeterminados, objetos privilegiados da descrição fenomenológica das definições das experiências vividas, ou uma arvore percebida a partir da janela do seu escritório. Um lugar de questionamento do conceito de ética e sua resistência a ser vista como prática refletida da liberdade, sendo a ética o campo de atuação da liberdade, a liberdade se apresenta como condição ontológica da ética. Dos valores de si para si (moral), assim como as relações com os outros (política). Foucault nos chama atenção para o que ele chama de “ problema histórico” e pergunta: “ Como se pode fazer a história do saber, a história da emergência de um saber? ”. Torna-se mais do que necessário, em todos os âmbitos do conhecimento, que se permita refletir criticamente o conceito de ética sobre as práticas da liberdade, não somente no interior do “ objeto” analisado, mas também suas formas e relações com a exterioridade. SARAVÁ. AXÉ.

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