quarta-feira, 25 de junho de 2025

Acredito que, durante sua trajetória existencial, tuas atitudes foram as mesmas dos nossos antepassados — destino de mestres e mestras dispostos à luta contra a guerra, contra a fome, pelo incentivo e valorização de nossas tradições culturais. Sinto como se suas estratégias fossem alternativas de ginga de Palmares, ensinamentos de Zumbi, bendizer de uma certa paz que sempre soube o momento de avançar em ocasiões de perigo e recuar no momento em que os outros pudessem agir. Agrada-me tuas palavras sobre o que significa representatividade, ou seja, a escolha da comunidade por um(a) líder corajoso(a), leal, generoso(a) e de grande sabedoria. A imagem honrosa de uma mulher preta corajosa, ressignificando, canalizando e rechaçando os baluartes coloniais. Visualizar a esponja que está ao fundo da terra, no amálgama da terra, o sangue de Palmares e o sangue dos palmarinos — parte do sangue que corre em todas as nossas veias. Tens o dom de direcionar. Através de ti, compreendi que nós somos mulheres de ventre forte. Somos a origem da vida e a origem do que é fecundo. Mulheres com ternura, auxiliadoras, mulheres de poder e grande força, ensopadas, transbordantes... Tu me disseste, uma vez, que as Marias, as Madalenas — figuras fortes de poder — são feminilidades que ficam ao lado, ficam atrás, e não uma figura que fica na frente. Acredito que estes posicionamentos cabem em várias dimensões no que diz respeito às nossas relações interafetivas, de visões não dicotômicas, não binárias. O outro de nós é aquele que está ao seu lado. O outro é aquele que você segura, alternando as posições das mãos. Aquele que você suporta, se for seguro. O outro é aquele que você conduz. O outro não é aquele que você sobrepõe. Quando estou em solitude necessária e escolhida por mim, relembro de tuas orientações em relação à concepção de fuga. A fuga no sentido da dança: o momento em que você se sente com total liberdade e flexibilidade, abre espaços sem precisar usar máscaras sociais ou sair do lugar. Vejo esse lugar como um lugar de onde crescem as raízes, ação furtiva dentro do mesmo espaço, para uma dádiva de antes. Compartilho, sim, alegremente, suas oferendas, seu ebó. Inclusive, quero lhe dizer que compreendo plenamente quando, em suas anotações, comentas sobre seus conflitos externos e internos, suas alegrias, decepções pessoais, dilemas, dramas existenciais, questões amorosas e profissionais. Tu és uma voz amiga. Sempre vou ao teu encontro. E digo: ainda busco por mais informações e explicações sobre esse momento fatídico que foi capaz de te tirar de nós. Gratidão pela tua existência, pela tua passagem e pela dedicação que tiveste diante de nossas lutas seculares. Pelo legado deixado para nós — principalmente nós, mulheres pretas. Por ser uma ancestral ainda tão presente, respeitada, importante para os nossos estudos contra-hegemônicos e espirituais, assim como as rezas quilombolas perfumadas com teu cheiro. Gratidão pela poesia que foi tua existência. Amo tu, flor.

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